Grávida-robô ajuda a formar enfermeiros para assistir a partos

Escola de Enfermagem de Lisboa abre Laboratório de Práticas Simuladas de Saúde Materna

O ritmo cardíaco acelerado de Noelle preocupa os enfermeiros, mas o parto corre bem e termina em poucos minutos. Desta vez, o bebé nem sequer precisa de ser reanimado. É que Noelle deu à luz pelo menos cinco vezes, ontem.

Importa explicar que Noelle é uma robô, usada para treinar enfermeiros em situações de parto. A grávida-robô é a estrela do recém-inaugurado Laboratório de Práticas Simuladas de Saúde Materna, na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa (ESEL).

A boneca de silicone e o seu bebé estão equipados com tecnologia que permite "simular diversas situações de parto - nascimentos de pés, de cabeça - e também complicações como hemorragias ou dilatação insuficiente", explica Etelvina Tojal, directora do departamento de saúde materna da ESEL. Ou seja, os alunos podem testar os seus conhecimentos e reacções em situações de partos de risco, mas também preparar-se para ser autónomos em partos de baixo risco.

Além da situação de parto medicalizado, a mais comum em Portugal, os estudantes vão poder praticar também partos naturais: o Laboratório está equipado também com uma cadeira de partos e uma piscina. A promoção do parto natural é, aliás, um dos objectivos dos especialistas em saúde materna.

Etelvina Tojal considera que este tipo de nascimento oferece "mais liberdade" e considera que em Portugal ainda "temos um parto muito medicalizado". "Por enquanto temos uma população que é pouco exigente, o que também leva os profissionais a darem menos", diz.

No entanto, acredita que a tendência é para começar a "reintroduzir velhos hábitos", como o nascimento em casa e a amamentação - sempre com apoio de enfermeiros especializados, ressalva. Por enquanto, a professora teme que o parto ao domicílio ainda seja perigoso e, por isso, defende que "a grande prioridade deve ser a criação de alas de parto natural nas maternidades". "Na maternidade Alfredo da Costa já estão a estudar essa possibilidade", avança.

Opinião semelhante tem Maria Teresa Pequito, enfermeira pioneira do ensino da saúde materna em Portugal, que deu nome ao Laboratório. Agora com 82 anos, conta que quando fez a especialização em Inglaterra, no início dos anos 50, a prática já era mais natural. "As grávidas podiam deambular pelo quarto e tinham a companhia do marido", lembra. "A filosofia já era diferente, era apoiar a família", conclui.

Investimento importante

O novo laboratório, que representa um investimento superior a 50 mil euros (só o simulador custou cerca de 30 mil), vai servir mais de 300 estudantes do terceiro ano e os cerca de 70 enfermeiros que frequentam a especialização em saúde materna.

Como existem apenas outros três simuladores no País, a directora da ESEL, Filomena Gaspar, não afasta a possibilidade de disponibilizar a estrutura para o treino de bombeiros, que muitas vezes assistem as mulheres em trabalho de parto, a caminho do hospital. Fonte: DN